Após sofrer algumas mudanças e a inserção/absorção de diversos parâmetros em seu conceito, a Arquitetura Sustentável é consolidada e ganha lugar de destaque em discussões de todo o mundo.
Com a difusão do conceito de Desenvolvimento Sustentável e à medida que crescia a consciência sobre o esgotamento dos recursos naturais, muitos estudos foram realizados com o intuito de mapear os grandes vilões da temerosa insustentabilidade ambiental, um dos grandes responsáveis pela geração de impactos ambientais negativos. De acordo com Lemos (2005), no panorama de impactos ambientais, a indústria da construção civil aparece como responsável pela extração de aproximadamente 20% dos recursos naturais e como um gerador potencial de poluições atmosférica e residual.
Miguel Aloysio Sattler (2003) classifica os impactos determinados pela indústria da construção civil em dois tipos: impactos durante a fase de produção da construção (extração, processamento e distribuição de produtos), considerados de maior interferência no ambiente; e impactos durante a fase de utilização da construção (aplicações no local, desenvolvimento da vida no local e disposição dos produtos correspondentes). Na tentativa de equacionar tais impactos, surge em 2003, o conceito de Construção Sustentável, definido como: “conjunto de estratégias de utilização do solo, projeto arquitetônico e construção em si que reduzem o impacto ambiental e visam a um menor consumo de energia, à proteção dos ecossistemas e mais saúde para os ocupantes” (ADAM, 2001, p.24).
Inevitavelmente, em associação com o conceito de construção sustentável, surge o conceito de arquitetura sustentável, pois, como afirma Corbella (2003, p.8): “o arquiteto, sem desprezar o belo e a plasticidade das formas, [teve que] forçosamente reencontrar o meio ambiente, cujo equilíbrio é de fundamental importância para a sobrevivência da espécie humana na Terra”.
Após sofrer algumas mudanças e a inserção/absorção de diversos parâmetros em seu conceito, a Arquitetura Sustentável é consolidada e ganha lugar de destaque em discussões de todo o mundo. As muitas frentes de discussão sobre o assunto enveredam por aspectos econômicos, sociais e ambientais. Uma conceituação atual, abrangente e muito bem recebida pelos estudiosos da Arquitetura Sustentável é dada por Mülfarth (2003, p.31): “uma forma de promover a busca pela igualdade social, valorização dos aspectos culturais, maior eficiência econômica e menor impacto ambiental nas soluções adotadas… garantindo a competitividade do homem e das cidades”.
Outro conceito de arquitetura sustentável é fornecido por Corbella (2003 p.17) que a define como sendo a concepção e o desenvolvimento de edificações que objetivem “o aumento da qualidade de vida do ser humano no ambiente construído e no seu entorno, integrado com as características de vida e do clima locais, além da redução do uso de recursos naturais”. Já de acordo com Steele (1997, p.11), a arquitetura sustentável “consiste na produção de uma edificação que se adapte ao clima, à iluminação, ventilação e topografia, tirando proveito das condições naturais do lugar reduzindo o desperdício energético”. Para a Ecoplano (2006), por sua vez, a arquitetura sustentável é aquela que considera o uso, a economia e a racionalização/eficiência de recursos, o ciclo de vida do empreendimento e o bem estar do usuário, reduzindo significativamente, ou até eliminando, possíveis impactos negativos causados ao meio ambiente e a seus usuários.
Apesar da aparente homogeneidade de conceitos, a nova tendência mundial de arquitetura não pode ser vista como homogênea, pois em seu processo de amadurecimento e disseminação, surgiram algumas discordâncias teóricas que induziram a formação de duas posturas: a ecocentrista, que valoriza essencialmente o mundo natural e iniciativas individuais de transformação na relação homem/natureza; e a tecnocentrista, que defende uma arquitetura baseada na máquina, esta supostamente capaz de solucionar os possíveis problemas ambientais (FOLADORI, 2001).
Dessas posturas, importantes movimentos surgiram, sendo a Green Architecture, ou Arquitetura Verde, o mais difundido e utilizado, pois, fugindo de radicalismos, visa a conciliar a tradição histórica e as possibilidades modernas, em especial através da aplicação de tecnologias “limpas” e recursos renováveis (WINES, 2000). Paulatinamente e de forma isolada, uma parcela dos projetos arquitetônicos, tanto novos quanto retrofits (reformas), passa então a ser desenvolvida sob a ótica da sustentabilidade, estabelecendo padrões de sustentabilidade humana e ambiental, introduzindo novas tecnologias de menor impacto e reutilização de matérias-primas envolvidas (SECOVI, 2001).
Surgem então, na primeira década do século XXI, as edificações denominadas Green Buildings, ou Edifícios Verdes, empreendimentos nos quais os impactos ambientais gerados no projeto, na construção e na operação do edifício são minimizados sem interferir no atendimento das necessidades dos usuários (SILVA, 2000). Nesses empreendimentos, a preocupação com a sustentabilidade está presente desde a fase projetual até a utilização da edificação pelos usuários. Isso é de suma importância de acordo com Menegat (2004), pois segundo ele, não se pode restringir a busca de sustentabilidade das edificações apenas àquilo que concerne ao impacto ambiental e imediato da edificação no meio ambiente, mas também devem ser considerados todos os aspectos sociais, econômicos, culturais e políticos envolvidos a curto, médio e longo prazo. Segundo Silva (2000), o conceito dos Green Buildings está em concordância com as instruções de Menegat e contempla as várias esferas da sustentabilidade, ou seja, as dimensões social, econômica e ambiental, que constituem o tripé do desenvolvimento sustentável.
A expressão Green Building passa a ser adotada de forma a englobar todas as iniciativas dedicadas à criação de construções que utilizassem os recursos de maneira eficiente, promovessem conforto, tivessem vida útil ampliada e fossem adaptáveis às mudanças de necessidades dos usuários. De acordo com Menegat (2004), os benefícios das construções sustentáveis podem ser classificados em estratégicos (evitam riscos e danos ambientais, além de aumentarem o valor do imóvel), operacionais (garantem a economia de custos e consumos durante a fase de construção) e econômicos (tornam os empreendimentos mais atraentes, o que garante um maior valor agregado, além de reduzirem os custos de operação e manutenção).
* HUMANAE. Revista Eletrônica da Faculdade de Ciências Humanas ESUDA (ISSN 1517-7606). http://www.esuda.com.br/revista_humanae.php. VIEIRA, Luciana Alves; BARROS FILHO, Mauro Normando Macêdo. A emergência do conceito de Arquitetura Sustentável e os métodos
Fonte: HUMANAE