Deputado federal pelo Mato Grosso, arquiteto critica a contratação de projetos por pregão
Ex-prefeito de Rondonópolis (MT) e deputado federal estreante, o arquiteto Adilton Sachetti (PSB-MT) é da opinião de que o Brasil “passou batido” na elaboração de politicas públicas em defesa da qualidade de vida de nossas cidades.
“Nasci em 1956. Lembro-me bem que quando eu era moleque, nos anos 60/70, quando começou a haver uma grande migração do campo para a cidade. Essa migração foi, em boa parte, decorrente das novas regras de obrigações trabalhistas, iguais às que vigoravam nas cidades, sem condições de serem cumpridas no campo. Nossas cidades não estavam preparadas para isso, por falta de planejamento e recursos, mas o problema é de dimensão nacional”, disse ao CAU/BR.
“O resultado foram as invasões, os ‘juntados’ da periferia das cidades que se desdobram em problemas sociais”, afirma ele, utilizando expressões típicas de sua região. “Rondonópolis, que hoje tem 230 mil habitantes, é a segunda em importância econômica do Mato Grosso e a terceira em tamanho, muito por conta desses ‘grilos’.
Em favor do planejamento urbano, o deputado apoia a defesa que o CAU/BR faz da elaboração projeto completo para obras públicas, antes de sua licitação. Lembra, a propósito, o caso do VLT de Cuiabá-Várzea Grande, contratado via RDC (Regime Diferenciado de Contratações Públicas), só na base do anteprojeto. A obra, iniciada em 2012, deveria estar pronta para a Copa do Mundo de 2014, mas segue inconclusa, apesar de mais de 70% das verbas já terem sido pagas, percentual bem acima da execução física do projeto.
Segundo dados divulgados em 09/02 pelo Gabinete de Projetos Estratégicos do Governo de MT, ocorreram falhas “grosseiras” no empreendimento, a maior e mais cara construção já contratada no estado, licitada por R$ 1,4 bilhão. O governo teme a necessidade de suplementar o valor, que poderia chegar até a R$ 1,8 bilhão. E, segundo o diagnóstico oficial, a obra dificilmente será entregue antes de 2016.
Da mesma forma, Adilton Sachetti critica a contratação de serviços de arquitetura por pregão, “pois projetos não se pegam a laço como um boi”.
Para o deputado, o programa “Minha Casa, Minha Vida” tem bons propósitos, mas o resultado final é ruim. “A questão urbanística foi totalmente descartada. Os conjuntos todos iguais parecem ‘chocadeiras’ assentadas em áreas sem melhorias como praças, escolas, transporte público e até saneamento básico, em muitos casos”.
O problema, segundo ele, é o atrelamento do preço do terreno ao valor das construções, o que leva as empreiteiras a buscarem terras mais baratas na periferia das cidades. E as prefeituras, inertes, terão que arcar, no futuro, com os investimentos “para dar dignidade àqueles locais sem nenhuma convivência social, quase campos de concentração”.
Adilton Sachetti foi o segundo deputado federal mais votado do Mato Grosso. Ligado ao agronegócio, o setor é sua prioridade na Câmara dos Deputados. Ganhou fama internacional ao atuar como liderança na vitoriosa luta pela queda do subsídio dos Estados Unidos aos produtores algodão. De qualquer forma, ele declarou ao CAU/BR estar à disposição para discutir, sempre que necessário, pautas da Arquitetura e do Urbanismo.
Após o mandato na Prefeitura de Rondonópolis, iniciado em 2004, ocupou a Secretaria Extraordinária de Articulação no governo do estado e comandou a extinta Agência Estadual de Execução dos Projetos da Copa (Agecopa-MT).
Como arquiteto, Adilton Sachetti projetou os silos, armazéns e pontes dos portos de Itaquatiara e Porto Velho; foi o autor do plano urbanístico de Sapezal, cidade no noroeste de Mato Grosso; e concebeu três pequenas centrais elétricas, entre outras atividades.
Fonte: CAU/BR