A região metropolitana de Maringá vive, desde sua constituição, um processo de mercantilização do seu território urbano. Nas duas últimas décadas essa metrópole paranaense vê um projeto comandado pelo setor terciário e mercado imobiliário que amplia suas fronteiras urbanas num processo de segregação socioespacial, reproduzindo condições de vulnerabilidade social e desigualdade, e impedindo sua superação. Essa conclusão faz parte do e-book “Maringá: transformações na ordem urbana”, lançamento do Observatório das Metrópoles.
De acordo com a profª Ana Lúcia Rodrigues, os resultados do e-book “Maringá: transformações na ordem urbana” mostram que a RMM privilegia, desde a sua constituição, o município-polo em relação aos demais municípios periféricos que a compõe, referindo-se ao fato de que Maringá reúne as melhores condições econômicas, intelectuais e sociais.
“Notamos que este privilégio assegura para o polo recursos superiores nos investimentos em infraestrutura, além de atrair o capital nacional e estrangeiro. Este é um sinal de que há uma hierarquização do poder na RMM e, por conseqüência, reprodução de efeitos negativos na sua organização socioespacial, confirmando uma tendência do liberalismo periférico fundado na configuração da espacialidade em núcleos superiores, que centraliza a administração e a economia, e em periferias, para onde são empurrados os trabalhadores e a pobreza em geral”, explica Ana Lúcia.
FORMAÇÃO DE MARINGÁ: PROJETO CAPITANEADO PELO MERCADO
O estudo mostra que na formação do território de Maringá o projeto foi comandado pelos setores “financeiro-madeireiro-agro-exportador-ferroviário-imobiliário”. A inserção da RMM na dinâmica da economia brasileira teve início com a criação da cidade de Maringá pela Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP) em 1947, como distrito de Mandaguari, tendo o papel específico de ser polo econômico regional. No começo a base econômica foi o café; sendo substituído em seguida pelas plantações de soja e trigo. Esta modernização agrícola desencadeou o processo de industrialização e colaborou com o crescimento acelerado da população do seu aglomerado urbano.
O livro mostra que a década de 1980 foi outro período de intensa migração do campo para cidade, engrossando agora as periferias de Sarandi e Paiçandu, reservatórios de mão de obra dos homens “móveis” que, sem qualificação, procuram no centro hegemônico um emprego sazonal e precário.
Segundo Ana Lúcia Rodrigues, este movimento acelerou o processo de conurbação e a formação metropolitana de Maringá. E foi neste período que o ideário neoliberal estimulou, em nível nacional, a concorrência entre as localidades para a atração de investimentos privados, passando a vigorar a lógica da sobrevivência das localidades mais aptas a receber os investimentos.
“Nas duas últimas décadas vimos o processo de mercantilização da cidade nas mãos do mercado imobiliário, um dos principais parceiros do poder liberal, aquele que implanta a agenda neoliberal, cria uma situação em que a territorialidade vai se polarizando, concentrando a população de baixa renda nas regiões periféricas mais afastadas das áreas centrais, enquanto estas são ocupadas principalmente pelas classes altas, circundas pelas médias”, explica a professora Ana Lúcia Rodrigues que conclui:
“Pode-se dizer que a ordem urbana regional da metrópole de Maringá se mantém inalterada desde sua formação, pois prevalece à histórica orientação dada pela lógica patrimonialista e que, portanto, os elementos de integração econômica e social presentes não são robustos e duradouros, pois nessa região o mercado é o protagonista – quem sustenta é o Estado – e as ações sempre são baseadas na “pequena política”, um termo utilizado por Filgueiras para se referir às alianças e aos acordos, realizados nos gabinetes, fora das instâncias e dos debates públicos”.
MUDANÇAS NA METRÓPOLE DE MARINGÁ
O e-book “Maringá: transformações urbanas” aponta algumas mudanças na estrutura urbana da RMM nas duas últimas décadas. A seguir alguns destaques:
i) Nascida do projeto financeiro-madeireiro-agro-exportador-ferroviário-imobiliário se caracteriza nos dias atuais como um projeto terciário-imobiliário
ii) A maioria dos municípios fundados no setor primário perde população por falta de emprego;
iii) A composição sócio-ocupacional na região maringaense, entre 1991 a 2010, sofreu alterações significativas relacionadas a algumas áreas da economia que repercutem em mudanças na estrutura social da RMM com destaque para:
· o vertiginoso crescimento dos empregados e professores de nível superior
· queda do número de pequenos empregadores;
· aumento expressivo das ocupações médias, de escritório, de supervisão e técnicas;
· a diminuição do número de prestadores de serviços especializados;
· o aumento dos trabalhadores nos serviços auxiliares e de prestadores de serviços não especializados; e
· a queda no número de empregados domésticos, de ambulantes e de biscateiros;
· diminuição de trabalhadores na indústria tradicional e maior número de empregos na indústria moderna
· a construção civil e os serviços auxiliares têm o maior número de ocupados na RMM;
· queda vertiginosa no número de ocupados na agricultura nas duas décadas analisadas.
v) Mudanças na estrutura socioespacial – 91 a 2010
· Expansão do centro da cidade polo como Tipologia Superior.
· Tipos Médios adjacentes ao centro.
· Encolhimento do tipo Agrícola.
· Diminuição do tipo Operário popular, num rebatimento da diminuição das atividades do secundário.
· Expansão do tipo Popular operário, em sentido contrário, refletindo o aumento das atividades do terciário.
vi) A principal mudança socioespacial da RMM na última década é um espraiamento dos espaços populares para áreas anteriormente agrícolas em vários municípios do entorno do polo, especialmente ao Norte.
Leia a análise completa sobre as mudanças e permanências desta metrópole paranaense no livro “Maringá: transformações na ordem urbana” – disponível para download nas versões e-book e pdf.
LANÇAMENTO LOCAL
O Núcleo Maringá do INCT Observatório das Metrópoles promove o lançamento local do livro “Maringá: transformações na ordem urbana no dia 30 de junho, às 19h, no SESC Maringá. O evento é aberto ao público, e contará com a participação do coordenador do Observatório, professor Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro
Fonte: CAU/BR