Sessão em memória dos arquitetos aconteceu durante 10ª Reunião Plenária Ampliada em Brasília
Dois mestres da arquitetura brasileira foram homenageados em Sessão Solene do CAU/BR durante a 10ª Reunião Plenária Ampliada. Presidentes dos CAU estaduais, conselheiros federais, colaboradores do CAU/BR e convidados se reuniram para homenagear os arquitetos João da Gama Filgueiras Lima, o Lelé, e Miguel Pereira, que faleceram em maio de 2014. Os dois tinham 82 anos. De tantos amigos em comum e uma obra compromissada com a arquitetura de qualidade, Lelé e Miguel ainda trazem as coincidências de terem nascido no mesmo ano e falecido no mesmo mês.
“Duas vidas longas e plenas, pessoal e profissionalmente, amados que foram por seus parentes, admirados por seus colegas e amigos e respeitados por seus concidadãos e desafetos. Ambos trabalharam com paixão até à véspera de seu ‘encantamento’, como diria Graciliano Ramos”. Com essas palavras, o conselheiro federal pela Bahia, Paulo Ormindo de Azevedo, abriu a solenidade que contou com a presença da filha de Lelé, a arquiteta Adriana Rabello Filgueiras Lima e o filho de Miguel Pereira, o também arquiteto Tagore Leite Alves Pereira.
“A obra de Miguel segue uma linha modernista clássica em concreto armado com forte influência de Mies Van Der Rohe e Osvaldo Bratke. A de Lelé concilia tradição barroca e oscariana com a industrial, além do uso de técnicas diversas. Ambos, porém, tem a mesma preocupação social. Miguel pretende mudar a realidade através da formação de agentes qualificados, arquitetos e urbanistas, na transformação do espaço urbano. Lelé oferece a administradores públicos e comunidade soluções técnicas alternativas que possam facilitar as transformações urbanas e sociais”, diz Paulo Ormindo, relembrando os carismas marcantes dos arquitetos e trajetórias pessoais.
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Durante a homenagem, foi exibido o trecho de um vídeo da série “CAU Conversa Com” produzido em maio de 2012. Ali, Miguel reverenciava seu amigo Lelé pelo homem e profissional, enaltecendo a sustentabilidade da obra de arquitetura que ele sempre propôs e, principalmente do compromisso social que acompanhou as propostas do arquiteto.
Para Miguel, ex-conselheiro federal do CAU por São Paulo, Lelé deveria ter sido indicado ao prêmio Nobel da Paz pela sua produção pautada pelos seus compromissos sociais, pela proposta natural e pujante de sustentabilidade. “A cidade e a arquitetura têm uma dimensão capaz de produzir paz, por isso o nosso candidato deve ser um arquiteto, chamado Lelé”, finaliza Miguel no vídeo.
Os filhos dos arquitetos receberam placas de homenagem à memória dos dois profissionais. Também reiteraram a importância do trabalho do CAU pela valorização da profissão pela qual seus pais tanto lutaram e se orgulharam. Adriana Rabello Filgueiras Lima, com o mesmo estilo simples de seu pai, expressou sua emoção e o agradecimento em nome da família. “Tanto papai como Miguel eram ateus, mas eu acho que a energia fica e de alguma forma as duas energias estão aqui com a gente”.
Tagore Leite Alves Pereira, igualmente emocionado, leu um trecho de texto de seu pai sobre a necessidade de diálogo para superar adversidades e manter a esperança de novas conquistas. “Olhe para a Lua, para a estrelas, para o sol e, se você sentir algo estranho, fique sabendo que um obra de arte está muito próxima de você, você poderá até criá-la. Faça tudo isso, mas por favor, não mate as rosas, porque uma rosa é uma rosa, e uma rosa é uma flor”, diz o texto de 1965, trecho do primeiro livro de Miguel “Arquitetura e os caminhos de sua explicação”.
Diversos presidentes e conselheiros fizeram uso da palavra. O conselheiro Roberto Simon (SC) lembrou o espírito humilde de Lelé e o quanto aprendeu de política do Miguel Pereira. O presidente Guivaldo d’Alexandria Baptista (BA) falou do privilégio de Salvador “que tem obra de Lelé por toda cidade”.
Osvaldo de Souza, presidente do CAU/MS, recordou a alegria de aprender com Lelé o que se imaginava aprender apenas com os livros quando ainda era jovem. O presidente Raquelson dos Santos Lins (RN) fez uma analogia entre as rosas mencionadas por Miguel Pereira e o CAU/BR, pelo qual ele tanto batalhou. O conselheiro Paulo Saad (RJ) falou da dedicação total de Lelé à profissão e da satisfação da convivência com Miguel Pereira nas reuniões do CAU/BR.
Haroldo Pinheiro, presidente do CAU/BR lembrou que trabalhou a vida inteira com Lelé e, de certa forma, ainda continua trabalhando, dando sequência aos projetos de dois museus que fariam em conjunto. “Curioso, fizemos tantos projetos, mas nenhum museu. Agora ele se vai e me deixa essa emblemática missão. E Miguel Pereira, a quem reencontrei na batalha para a constituição do CAU/BR, me deixou com a tarefa de concluir a implantação do nosso Conselho. Minha sensação é de que recebi de ambos uma missão semelhante a que o pai entrega ao filho. A falta que sinto deles é enorme. Dois grandes amigos, Lelé praticamente meu irmão mais velho. Perdemos dois grandes brasileiros”.