O novo centro de São Paulo começa a dar as caras à medida que projetos lançados nos últimos anos têm suas chaves entregues. De 2010 a 2016, segundo estudo da imobiliária Lopes, ao menos 73 empreendimentos e mais de 13,1 mil unidades serão acrescentados à oferta local, com a promessa de transformar para melhor quarteirões antes largados à degradação.
Parte do aspecto descuidado da Rua Paim ficou para trás agora que os novos edifícios do Baixo Augusta ganham forma. “Quando comprei o apartamento, na planta, a rua não era legal, mas, com a valorização e com as pessoas vindo para cá, está ficando melhor, mais limpo. Está uns 70% do que pode ser”, diz o cabeleireiro Marcos Ramires, de 45 anos. Ele vive em um imóvel de 35 metros quadrados no Terraço Paulista Residencial, projeto da You,Inc entregue em novembro do ano passado.
Remires vivia em Santa Cecília antes de se mudar e, por isso, já estava acostumado com o “clima” na região central, movimentado e com grandes possibilidades de locomoção. Esta é, aliás, uma das vantagens de seu atual lar, segundo ele, que pode até ir a pé para seu trabalho, nos Jardins.
O assistente administrativo Valter João da Silva Júnior, de 30 anos, trabalha perto dali, no trecho da Rua Augusta próximo ao centro, e espera ansioso pela entrega do edifício onde comprou um apartamento. Projeto da Brookfield Incorporações, o New Way, fica próximo ao Parque Dom Pedro e terá obras concluídas em meados de 2015.
Atualmente, Silva utiliza carro ao menos três vezes por semana para fazer o trajeto de sua atual moradia, em Ermelino Matarazzo, até o seu local de serviço. “Minha expectativa é de deixar de usar o veículo, porque vou morar perto do metrô e de uma linha de ônibus que me deixará na porta do trabalho”, diz Silva, que gasta mais de R$ 300 mensais só com estacionamento perto da Paulista.
O estado atual da região do New Way ainda não agrada o assistente administrativo, no entanto – o edifício está cercado de galpões industriais e de alguns moradores de rua. “Mas acho que ele vai puxar outros prédios.” Por enquanto, Silva comemora a valorização do seu imóvel, cujo metro quadrado passou de cerca de R$ 5,5 mil em 2012 para atuais R$ 7 mil.
Nesta fase de entregas, a aposta na melhora do espaço urbano continua forte entre os proprietários, mais preocupados com o potencial de valorização dos bens e com a facilidade de locomoção do que com aspectos como a situação de segurança, segundo profissionais do mercado. “Sempre uma região começa a se desenvolver por causa da atividade imobiliária. E há uma aposta: ou se acredita que os novos prédios vão se deteriorar conforme o entorno, ou que eles vão impulsionar a mudança da região. Nós acreditamos mais na segunda opção”, diz a gerente de relacionamento da Lello Condomínios, Angélica Arbex.
Para o bem ou para o mal, o espraiamento dos projetos pelo centro não é homogêneo. Segundo o vice-presidente de comercialização da imobiliária Abyara Brasil Brokers, Bruno Vivanco, o preço do metro quadrado entre as áreas centrais de São Paulo variam entre R$ 9 mil e R$ 14 mil. “É uma faixa territorial bem grande. A tipologia e o tipo de produto mudam entre os prédios do Baixo Augusta e das vias que ficam perto da Rua Avanhandava e o bairros do outro lado da linha do trem, como Brás, Pari e Bom Retiro.”
Os novos projetos com arquitetura sofisticada e unidades de apelo para investidores – studios e apartamentos de um dormitório – estão em maior número nas áreas vizinhas de vias já valorizadas. Acompanhando o Baixo Augusta, com o maior número de entregas previstas, os incorporadores passaram a buscar terrenos depois da Praça Roosevelt, perto da Avenida São Luís e da Praça da República.
A incorporadora Setin, por exemplo, deve lançar nessa região, no segundo semestre, três projetos da linha Setin Downtown: Praça da República, São Luís e Genebra. Perto dali, mais perto da Estação da Luz, a TPA Empreendimentos prepara o lançamento do projeto AM PM Pauliceia, e a Esser tem um terreno onde pretende fazer um lançamento no ano que vem.
Também com uma proposta compacta, os lançamentos na Bela Vista e em Santa Cecília acompanham as grandes vias de passagem locais – a Avenida Brigadeiro Luís Antônio e a linha 3-Vermnelha do metrô – e são extensões de vizinhanças nobres, como a Avenida Paulista e o bairro de Higienópolis.
Nas regiões do outro lado do trilho do trem, os empreendimentos se caracterizam pelo perfil familiar e com apelo mais econômico. Os studios e apartamentos de um dormitório saem de cena para dar lugar ao segmento de dois e três dormitórios, como ocorre no empreendimento já entregue Vallore Brás, da PDG Realty, no Brás.
Além de mudanças de perfil, algumas regiões do centro não têm sido ainda muito exploradas pelos incorporadores. A área entre a Sé e o Mercado Municipal e a chamada Cracolândia, por exemplo, configuram hoje vácuos de lançamentos.
Fonte: O Estado de S. Paulo.