Por Carlos Teixeira
As cidades de sucesso no futuro serão aquelas flexíveis e ágeis na capacidade de adaptação para as condições de mudança da sociedade. Elas devem encontrar seus nichos. Mas têm que ser abertas e diversificadas o suficiente para evitar os efeitos da dependência de setores industriais ou de outras atividades. Cuidados específicos devem ser adotados para evitar a repetição de fracassos, como o declínio de regiões como Detroit, nos Estados Unidos, decadente e abandonada depois da transferência de fabricantes de veículos para outras localidades.
Análises e projeções sobre ameaças e oportunidades que rondam as áreas urbanas do mundo fazem parte do recém-lançado “Relatório de Competitividade das Cidades”, do Fórum Econômico Mundial. O estudo avaliou e classificou itens como instituições, políticas de apoio aos sistemas de produção, infraestrutura e ambiente de negócios para definir um método de avaliação das características que tornarão as cidades aptas a competir no mercado global. A partir da análise de 33 metrópoles regionais, foram definidas as macrotendências que vão influenciar o futuro.
“A competitividade da cidade pode ser definida como o conjunto de políticas, instituições, estratégias e processos que determinam o nível de produtividade sustentável”, assinala o relatório. Há o reforço à expectativa de que as próximas décadas verão a onda de migração em massa para as cidades, especialmente na Ásia e na África. Megacidades estão brotando enquanto cidades inteiramente novas estão sendo criadas.
Com suas economias de escala, conectividade e propósitos, as áreas urbanas de alta densidade aproximam e concentram as pessoas e os mercados em um único espaço. “Esses lugares serão um dos motores de condução do crescimento, redução da pobreza e prosperidade ao longo deste século” avalia o “Relatório de Competitividade das Cidades”. Para a organização, cabe às cidades conhecer e aproveitar as megatendências.
Em especial, deve haver um esforço para atenuar as forças negativas previstas no horizonte. Inclusive o impacto de transformação das tecnologias, em que a automação promove a transferência de empregos entre regiões, o aumento das desigualdades, a pressão sobre os recursos naturais e o meio ambiente, e uma diminuição da confiança das populações sobre a capacidade das autoridades públicas de dar soluções para as demandas da sociedade. O estudo reconhece a existência de ações governamentais destinadas a enfrentar os desafios da melhora e preservação das condições de vida das populações.
Várias cidades estão se esforçando para aperfeiçoar os serviços e infraestrutura em meio a um crescimento caótico, incluindo os aglomerados como as favelas do Brasil, da Colômbia e da África. Localidades em países desenvolvidos, como Detroit, estão lutando com o envelhecimento da população e a perda de sua base industrial, desde que as fábricas mudaram para outras regiões e a automação tem dizimado empregos não qualificados e ou de baixa qualificação.
Indicadores – O estudo identifica seis megatendências globais determinantes para a compreensão do futuro das cidades. “Desde 2010, pela primeira vez na história, mais da metade da população mundial vive em cidades, que representam mais de 80% do PIB global”, salienta o texto. O dado justifica a definição da urbanização, da demografia e da classe média emergente como força de destaque entre as megatendências. Em sociedades com maior número de pessoas com mais de 60 anos, a expectativa é de fortalecimento da classe média, com predominância dos mercados emergentes, que vão dobrar sua participação no consumo global até 2050.
O relatório também aponta o aumento da desigualdade entre regiões como tendência-chave do cenário futuro, colocando, em posições contrárias, as grandes e as médias e pequenas cidades. Os problemas que colocam a Região Metropolitana de São Paulo na direção de um confronto com o Rio de Janeiro e com outras cidades vizinhas parecem explicar suficientemente o nível dos desafios futuros. Forças desiguais se acirram e, em torno delas, a questão da sustentabilidade, como decorrência das concentrações de pessoas e das atividades econômicas. Cidades são especialmente intensivas no uso de energia, água e comida. E respondem por mais da metade das emissões globais de gases de efeito estufa.
Fonte: Diário do Comércio