Em toda entrevista, o prefeito usa metrópoles símbolo de modernidade para falar sobre São Paulo. Chicago, Tóquio, Barcelona, Amsterdam…
Todas já foram usadas para falar de ciclovias, mobilidade, grafites e invasões.
Mas o prefeito governa São Paulo, metrópole de 11 milhões de habitantes e infinitos problemas. Uma cidade com muita beleza, modernidade e inovação. Mas que ainda vive uma realidade digna do século 19.
Um ponto que atrapalha a vida dos paulistanos é a qualidade de suas calçadas. Esburacadas, com lixo, sem acessibilidade, cobertas de mato. Essa é a realidade que encontra quem anda pela cidade —coisa que o prefeito não faz.
Quem vai à à Liberdade, uma das principais atrações turísticas, tem que andar pelo meio da Rua São Joaquim, pois a calçada está tomada de entulho há semanas. No Butantã, a calçada central da Avenida Valdemar Ferreira tem mato na cintura. Em Ermelino Matarazzo, na zona leste, há avenidas que nem ao menos calçada têm.
A situação se torna ainda mais grave em tempos de dengue. Poças d’água se eternizam e viram criadouros de mosquito. Haddad tenta terceirizar a culpa, como fez ao anunciar que multaria os munícipes que não reformassem as frentes de suas casas. Ou ao dizer que a epidemia era de responsabilidade do Estado. O prefeito está errado. Uma cidade suja, com o mato alto e sem zeladoria é porta de entrada para a dengue e outras doenças transmitidas por insetos.
Em seus delírios modernistas, Haddad insiste na única bandeira de sua gestão: as ciclofaixas. É dever de todo prefeito cuidar dos milhares de ciclistas. Para isso, porém, não pode negligenciar da vida dos seus 11 milhões de pedestres. Mesmo que tenha carro ou bicicleta, todo cidadão é antes de tudo um pedestre, que deveria ter calçadas dignas para andar com seus filhos, direito que é esquecido pelo prefeito.
Haddad acha que governa Nova York. Mas a cidade que ele entrega mais se parece com Kampala, a castigada capital de Uganda.
Artigo publicado no jornal Diário de S. Paulo em 05 de abril de 2015