Construtoras e fornecedores de matéria-prima recorrem a novas tecnologias para ampliar mercado e estimular negócios. O aumento da contratação de crédito habitacional impulsionado pelo programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) nos últimos anos abriu um novo mercado para empresas da construção civil, em especial as que apostam em diferentes modelos construtivos. O primeiro conjunto habitacional feito com tecnologia sustentável a seco, com uso de painéis de madeira, foi entregue no fim de junho em Pelotas, no interior do Rio Grande do Sul. A obra foi realizada pela construtora gaúcha Rodrigo Ferreira, a primeira a comprar o licenciamento do sistema desenvolvido pela Tecverde, de Curitiba, que adaptou o método alemão wood frame de construção para o Brasil.
Além do Residencial Haragano, com 280 unidades, a Tecverde vai fornecer os kits para outros projetos habitacionais populares no Paraná, organizados por movimentos sociais. A construtora F-Klass será responsável por 67 unidades no Boqueirão, em Curitiba. Em São Miguel do Iguaçu, a Baú vai erguer 250 casas e em Rio Bom, outras 23 habitações.
A construção a seco é feita em um terço do prazo do sistema convencional, usa 75% menos mão de obra e gera 25% do resíduo de um canteiro comum. Para o construtor, uma casa na metragem padrão do MCMV, entre 43 e 50 metros quadrados, custa R$ 30 mil no padrão convencional, o custo pode chegar a R$ 55 mil. Com valor menor por unidade, o construtor pode equilibrar custos no preço do terreno , explica José Márcio Fernandes, sócio-diretor da Tecverde.
O modelo de negócio desenvolvido pela Tecverde permite que sejam feitas parcerias com outras construtoras para o licenciamento da tecnologia, semelhante a uma franquia. Em dois anos, essa transferência de tecnologia para terceiros, como no caso da construtora gaúcha, que replica em Pelotas a produção fabril das casas, deve chegar a 50% do faturamento. Só a parceria com a Roberto Ferreira aumentou o faturamento da empresa em 10%. A outra modalidade do negócio é a venda de kits, tanto para construtoras como particulares.
A Tecverde adaptou a tecnologia para atender as faixas 1 e 2 do programa, até 3 e de 4 a 10 salários mínimos de renda mensal, respectivamente. A homologação do Ministério das Cidades para a construção baseada em wood frame demorou três anos para ser concluída.
Barreiras
Segundo a gerente executiva em exercício de padronização e normas técnicas de construção civil da Caixa Econômica Federal, Ercília Maria Mendes Tomaz, a inovação na construção civil é uma tendência no país, embora ainda tímida, diante dos custos para implementação dos sistemas, especialmente em parques industriais, e da resistência de parte do setor.
Executivo da Berneck lança nova empresa
A demora na certificação e na adoção de novas tecnologias construtivas para financiamentos é uma das razões para o baixo impacto nas vendas da indústria da madeira na construção civil, na avaliação do empresário Daniel Berneck, da Indústrias Berneck. Tudo é lento e dispendioso. E temos um grande atraso tecnológico na área, comparado a outros países, diz. O descompasso, no entanto, foi um estímulo para o empresário investir em um novo negócio, em um projeto pessoal. Em um ano, Daniel deve abrir a operação de uma construtora especializada em obras de wood frame.
Normatização
O mercado brasileiro é reticente quanto ao uso da madeira na construção civil. A indústria padece de normatização para classificar a madeira estrutural, o que seria um ponto de partida importante para reverter a aversão contra a matéria-prima, na opinião do empresário.
A Berneck trabalha em parceria com a Universidade Federal de São Carlos (SP) para concluir os estudos que vão ajudar a normatizar o processo. Essa norma vai fomentar o mercado no país e abrir para o desenvolvimento local de tecnologias já disponíveis em outros lugares com os recursos que temos aqui, prevê.
Com mercado ainda incipiente, qualquer alteração nas vendas aponta para um crescimento positivo, ainda que fique distante da proporção das construções em wood frame nos EUA e Europa, de 95% e 60%, respectivamente. É preciso adaptar as técnicas com os recursos disponíveis e tirar da madeira o seu melhor desempenho, diz.
Fonte: Secovi-SP