A Praia dos Artistas assim é denominada porque foi lá onde se construiu o primeiro hotel na orla de Natal, o Reis Magos, atraindo celebridades para aquela região. Depois de 20 anos desativado e na iminência de sua demolição, diversas atividades estão sendo realizadas em frente do prédio na tarde deste sábado (28) por entidades ligadas a Arquitetura e preservação de patrimônio
O Coletivo (R)esiste Reis Magos, criado em agosto de 2014 por estudantes de Arquitetura e Urbanismo com o objetivo de proteger o prédio histórico, organizou um evento com oficina, debate e música para toda a tarde. A ideia é conscientizar a sociedade sobre a importância da mobilização para preservar o espaço, que compõe a paisagem local desde 1965. Para isso, contaram com a participação do Coletivo Urban Sketchers Natal, que reúne pessoas em locais públicos para fazer rascunhos e croquis. A música ficou por conta de Alan Persa e Fael Ramos e banda Raulzitos.
“O papel do Coletivo é complementar ao que os demais ógãos estão fazendo há um tempo. Nós queremos chamar atenção da imprensa e de todos para uma coisa que é parte da história da cidade”, explicou o representante do grupo, Alain Souza. De acordo com o estudante, a praia passou a ter iluminação e calçadão e as construções se voltaram para o mar a partir da inauguração do hotel. “Ele alterou a dinâmica da cidade”.
O professor da UFRN George Dantas ressalta que o Estado havia notificado o grupo Hotéis Pernambuco S/A, que é proprietário. O documento tinha valor de tombamento provisório, válido até quando se julgavam os processos de tombamento pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
“O proprietário pode fazer o que quiser desde que repeite os valores patrimoniais”, explica a intenção da mobilização. “O projeto precisa ser atrelado ao desenvolvimento da área, porque qualquer iniciativa gera vários impactos para a região”, disse, citando aumento no fluxo de veículos com consequente crescimento da demanda de estacionamentos.
“Não queremos que o prédio fique abandonado”, enfatiza. “Queremos a preservção de um elemento arquitetônico reconhecido internacionalmente”.
Quem concorda é a diretoria do Sindicato de Arquitetos e Urbanistas do RN (Senarq-RN), Flávia Laranjeira, também representante da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA). “Não se trata apenas da derrubada de um prédio velho. É preciso pensar em questões de planejamento urbano. O dono tem interesse de construir um shopping e está esperando a revisão do Plano Diretor”, conta, esclarecendo que isso poderia implicar na vida de comunidades tradicionais. Para a sindicalista, a população deve ser consultada.
Na praia, o carpinteiro César Augusto concorda com os arquitetos e acredita que a melhor saída seria a reforma. “Tendo valor histórico acredito que não deve ser derrubado. Na minha cidade [Campo Grande, RN], teve muita revolta quando quiseram retirar uma escadaria de madeira da igreja de Sant’Ana”, compara.
A provocação inicial para a conservação do hotel partiu do Instituto dos Amigos do Patrimônio Histórico e Artístico-Cultural (Iaphacc) em 2013, mobilizando outros segmentos da sociedade, como associações comunitárias dos bairros adjacentes.
Sabendo de visita do proprietário, José Pedrosa, no dia 10 de abril, os grupos se articularam e vão solicitar na próxima segunda-feira (30) audiência com o prefeito Carlos Eduardo. De acordo com o presidente do Iaphacc, a Prefeitura chegou a negociar e conceder anistia às dívidas tributárias referentes ao prédio em troca da garantia de que ele seria restaurado.
A programação contra a derrubada do Hotel Reis Magos segue no domingo (29). Desta vez na Fundação Hélio Galvão (Avenida Campos Sales, 930 – Tirol), a partir das 15h, com bate-papo sobre patrimônio cultural, realizado pelo Sindicato de Arquitetos e Urbanistas do RN (Sinarq/RN).
Fonte: Tribuna do Norte