Fundador da Rede Sarah foi grande incentivador da obra de João Filgueiras Lima, o Lelé
O médico Aloysio Campos da Paz Júnior, fundador da Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação, faleceu no domingo, 25/01, em Brasília. Aos 80 anos, ele foi vítima de insuficiência respiratória. Deixa esposa, dona Elsita Campos, três filhos e quatro netos. O corpo será velado e sepultado nesta segunda-feira na capital federal.
A presidente da República, Dilma Rousseff, divulgou nota de pesar em que lembra que o médico tratava os doentes com base no potencial de cada um e não nas dificuldades. O governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, decretou luto oficial de três dias em reconhecimento aos benefícios do trabalho do médico.
A morte emocionou não só o meio médico, mas também muitos arquitetos que conviveram com ele, como Haroldo Pinheiro, consultor técnico da Rede Sarah de Hospitais por mais de 10 anos e atual presidente do CAU/BR. Ele lembra da grande amizade que o ortopedista manteve com o arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, e da obra que realizaram juntos:
“Foi a união de dois talentos pela humanização do tratamento dos pacientes, oferendo assistência médica de excelência em ambientes mais fraternos, em primorosas construções industrializadas que inovaram a arquitetura hospitalar e lhes renderam justo prestígio internacional”.
PERFIL
Em 1980, o médico e o arquiteto iniciaram a Rede Sarah de Hospitais, com a inauguração de um Hospital de referência no Centro de Brasília, para 350 leitos, no terreno onde funcionava o pequeno Centro de Reabilitação Sarah Kubitschek.
Em sequência, realizaram os hospitais Sarah das cidades de São Luís, Salvador, Belo Horizonte, Fortaleza, Macapá, Belém e Rio de Janeiro, além do Centro Internacional de Neurociências e Reabilitação, o “Sarah Lago Norte”, também em Brasília. Outras unidades foram projetadas para Curitiba, Natal e Recife, ainda não executadas.
Após a realização do primeiro hospital de Brasília e do seguinte em São Luís, criaram o Centro de Tecnologia da Rede Sarah (CTRS) em Salvador, na Bahia, que, sob a coordenação do Lelé e sua equipe, fabricou os demais hospitais da Rede. Com a mesma tecnologia de industrialização, o CTRS ainda construiu postos avançados do Tribunal de Contas da União em diversas unidades da Federação, prédios diversos para programas sociais e passarelas cobertas, além de equipamentos urbanos e hospitalares.
Em horas vagas, médico e arquiteto se encontravam para seções musicais igualmente afinadas – Aloysio no trompete e Lelé ao piano –, acompanhados pelos muitos amigos instrumentistas e cantores das cidades em que construíram hospitais e treinaram novas gerações de médicos e arquitetos.
HOMENAGEM AO AMIGO LELÉ
Em 21 de maio de 2014, data do falecimento de Lelé, o médico-ortopedista Aloysio Campos da Paz Jr falou sobre a parceria que manteve com o arquiteto. ” Ele criou os espaços que permitiram a implantação de uma cultura em medicina de reabilitação, que, por meio de gerações, vem beneficiando milhares de brasileiros. Alguns são honrados com monumentos depois da vida. O Lelé ergueu os seus monumentos em vida e eles são a maior testemunha de seu gênio”, disse ao portal G1.
Na edição de junho de 2014, a revista Brasileiros publicou um comovente depoimento do médico sobre o arquiteto. Eis a íntegra:
TRATAMENTO HUMANIZADO
por Campos da Paz
Conheci João da Gama Filgueiras Lima – o Lelé – quando, retornando da Inglaterra, passei a chefiar o 10º andar do Hospital Distrital, hoje Hospital de Base. Lá se internavam os traumatizados. Lá foi tratada Alda Rabelo Cunha, companheira de Lelé, que tinha sofrido grave acidente automobilístico. Na época, notívago como hoje, eu passava horas montando trações com os equipamentos que o Distrital havia recebido, pois tudo havia sido importado da América. Procurava as melhoras maneiras de viabilizar o tratamento conservador. Lelé acompanhava e desenhava esquemas, os quais eram pendurados nas paredes para que as enfermeiras pudessem reproduzi-los nos traumatizados. Dessa nossa convivência, nasceu uma amizade caracterizada pela discussão constante sobre a humanização do tratamento que tanto nos interessava e que buscamos implementar. Em 1968, quando fui convidado para dirigir o Centro de Reabilitação SARAH Kubitschek – hoje o Sarinha –, surgiu a oportunidade de aproveitar os jardins que o cercavam, o sol, o verde, as plantas, enfim, agregar liberdade de espaço com tratamento. As camas pesadas eram empurradas para os jardins, onde se davam as visitas médicas. Os doentes, na maioria crianças, recebiam parentes em ambiente aberto e ensolarado. Essa vivência deu origem aos grandes espaços que Lelé projetou, em Brasília e, posteriormente, em todos os Hospitais da Rede SARAH. Implantou-se uma cultura, na qual a mobilidade, que foi dada pelo projeto de uma cama especial – a Cama-Maca –, permitia que o doente pudesse ser transportado sem o sofrimento, que muitas vezes ocorria com a sua remoção de um ponto para outro. Esse é o legado maior, o qual até hoje surpreende muitos: espaços e alegrias, sol no horizonte de Brasília, e não quartos como escritórios ocupados por burocratas equivocados, que não compreendem que a liberdade e o direito de vivenciar vários espaços são fatores fundamentais para a cura.
ENTREVISTA
Em 2010, o jornal Correio Braziliense entrevistou Aloysio Campos, primeiro ortopedista do Distrito Federal, para a série “Bravos Candangos”, que trazia conversas com pioneiros de Brasília. Clique aqui e leia a matéria completa.
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Fonte: CAU/BR