Além de compartilhar memórias sobre seu bisavô, Paulo Sérgio comenta sobre as dificuldades e desafios provocados pelo COVID-19
Convivi com Oscar Niemeyer, como bisneto e como seu colega de profissão trabalhei em vários projetos e principalmente no “Caminho Niemeyer”, em Niterói. Ao lado dele, um dia nunca era igual ao outro. No seu escritório em Copacabana era um entra e sai de personalidades, artistas e políticos. Durante toda a sua vida ele trabalhou muito, mesmo centenário me convocava até aos domingos. Na minha infância, me lembro de que muitas vezes, quando já estávamos de pijamas e prontos para dormir, ele seguia lá, trabalhando com total dedicação.
A pandemia da Covid-19 provocou a maior crise econômica, social do século, e no Brasil quem mais sofre é a população pobre, que vive sem a mínima infraestrutura sanitária, sem água encanada para se proteger do vírus. E essa imensa desigualdade social no nosso País me faz lembrar do meu bisavô, Oscar Niemeyer, o “dindinho” – era assim que nós os netos o chamávamos – e que sempre se referia aos excluídos com fraternidade. Prova disso, é que posso dizer, mesmo carregado de afeto e saudades (em 2022 marca dez anos de sua morte), que a frase que ele mais gostava de repetir era: “A vida é bastante injusta com os mais pobres”. E em outras palavras, me dizia: “Meu querido, fudido não tem vez”.
Nas nossas longas conversas, certo dia perguntei: Dindinho, que é arte? E ele me respondeu com aquela voz calma e pausada: “É tudo que cria surpresa e beleza, é um objeto, uma fala qualquer, que você nunca viu antes, nunca ouviu igual, então você se surpreende. E se você tem sensibilidade, é coisa bonita você para e aprecia . Arte é invenção A arquitetura é invenção”.