Por Luciano Teixeira
A paisagem urbana é uma construção histórica. Seu aspecto geral é a sedimentação concreta das sociedades humanas que se fazem nas infinitas relações produzidas na cidade. Nessa medida, o desenhar das ruas, a elevação dos prédios, as praças, os monumentos, enfim, não são mais do que as testemunhas dos inúmeros interesses que se entrechocam e se sintetizam na urbe. Irremediavelmente, as marcas da cidade são as marcas da sociedade que vive nessa cidade, mais ou menos influenciada por elementos externos.
Nesse sentido, não é possível uma cidade, um prédio ou qualquer mobiliário urbano que não funcione (embora possa funcionar mal). Portanto, os arquitetos e urbanistas cumprem seu trabalho de forma tecnicamente exemplar; seus viadutos, ruas, esquinas, prédios, monumentos, ambientações, enfim, funcionam, no geral, muito bem. A pergunta pela funcionalidade, assim sendo, é completamente descabida. Contudo, a pergunta a se fazer não é essa, mas um outra: qual a função social da arquitetura e do urbanismo?
O que é preciso discutir, na construção da nossa cidade, não é sua funcionalidade. O pelourinho, como mobiliário urbano, era tecnicamente perfeito para seu uso, mas a função que ele exercia na sociedade escravocrata era defensável? A função social, portanto, também precisa estar no campo das ponderações para a ocupação do espaço urbano. Sem esse cuidado, não saberemos que cidade queremos e, por consequência, também não saberemos que sociedade urbana teremos.
Pelo que se disse, não podemos nos deixar vencer, em nosso projeto de cidade, pela lógica mercadológica. A cidade não é só um mercado, mas uma habitação que deve ser bem cuidada ou vai se tornar inabitável, mesmo que funcione perfeitamente, no sentido técnico.
O cuidado estético com a cidade, portanto, é um cuidado da nossa sociedade e de nós mesmos.
Fonte: O Povo Online