Prefeito planeja investir US$ 55 milhões em vias marítimas para ligar os cinco distritos da cidade
O democrata Bill de Blasio começou o ano de 2015 com Hong Kong na cabeça ou pelo menos com os transportes de lá. E o prefeito de Nova York quer deixar a cidade mais parecida com a região autônoma chinesa, que todos anos vê 50 milhões de trabalhadores e turistas fazendo de balsa a travessia entre o Porto de Victoria e ilhas periféricas. A semelhança se resumiria às embarcações. Afinal, os ferries nova yorkinos transportam bem menos gente pelas águas dos rios Hudson, East e mesmo do Harlem.
Lembrando os moradores de que eles vivem numa cidade costeira que abrange três ilhas, De Blasio anunciou, em 3 de fevereiro, um serviço de ferry entre as cinco divisões da cidade. A ideia é conectar Wall Street e Midtown Manhattan a bairros isolados, como Red Hook, no Brooklyn, e Rockaways, uma seção do Queens. Apoiado por um rápido crescimento na orla do Brooklyn e do Queens, o prefeito aposta que pode ter sucesso onde seus antecessores falharam.
Embora várias tentativas anteriores tenham fracassado, temos uma população na orla que mudou drasticamente e continua mudando. Muitos jovens estão dispostos a caminhar, andar de bicicleta e depois tomar uma balsa disse Sam Schwartz, consultor de transporte e ex-comissário de trânsito na gestão do prefeito Edward Koch, nos anos 1980.
Aos 53 anos, De Blasio, que se considera progressista, afirma que os ferries são uma arma em sua luta contra a desigualdade de renda, ligando moradores dos distantes projetos habitacionais criados para os mais pobres às oportunidades de emprego.
O transporte é fundamental para a missão de fornecer habitação e serviços acessíveis, conectar os bairros das cinco divisões aos grandes polos de trabalho de Nova York afirmou De Blasio. Ter um emprego em Manhattan pode facilmente significar um trajeto de uma hora ou mais, mesmo se o horizonte da ilha puder ser visto de casa. Você pode, de fato, enxergar as oportunidades, mas na prática elas estão muito longe.
Novas rotas
A partir de 2017, as rotas ligariam Midtown e baixo Manhattan a Astoria, no Queens, aos bairros Bay Ridge, Red Hook e Cobble Hill, no South Brooklyn, e a Rockaways. O governo planeja rotas com partida de Soundview, no Bronx, e ao longo de Lower East Side, em Manhattan, em 2018.
Antes da construção de uma rede de pontes e túneis que une a cidade, as pessoas viajavam de barco entre o que depois se transformou nas cinco divisões da cidade. Agora, De Blasio investiria US$ 55 milhões em terminais e até US$ 20 milhões por ano em subsídios. As tarifas seriam de US$ 2,75, a mesma de um ônibus ou metrô. O tempo necessário para ir de Red Hook a Wall Street seria reduzido pela metade para 25 minutos.
As autoridades municipais estimam que 460.000 pessoas vivam em um raio de até um quilômetro dos pontos de desembarque planejados. Em pleno funcionamento, os barcos transportariam 4,6 milhões de passageiros por ano. Como comparação, 7,7 milhões de pessoas utilizam o metrô e os ônibus da cidade de Nova York todos os dias. E essa matemática pode explicar por que entre as 70 rotas de ferry utilizadas nos últimos 30 anos, apenas 20 sobreviveram, disse Jeffrey Zupan, integrante sênior do ramo de transporte da Regional Plan Association, uma associação de planejamento urbano.
Demanda fraca
No ano passado, a cidade cancelou o serviço que saía de Rockaways com destino a Manhattan porque a baixa utilização exigia um subsídio de US$ 30 por passageiro, disse Wiley Norvell, porta-voz de De Blasio.
O plano do prefeito se baseia no East River Ferry, que conecta Manhattan a Williamsburg e Greenpoint, no Brooklyn, e a Long Island City, no Queens. O serviço operado por uma empresa privada, iniciado em 2011, recebe um subsídio de US$ 2,22 por passageiro da cidade para tarifas de até US$ 6 por trecho nos fins de semana.
Nas últimas duas décadas, Nova York transformou sua orla com parques populares, como o Brooklyn Bridge Park, e com novos empreendimentos residenciais. Empresas de tecnologia e de mídia se agruparam em um antigo distrito fabril conhecido como Dumbo, sigla em inglês para Sob a Rampa da Ponte de Manhattan. Agora, o desenvolvimento está se mudando para o norte, junto à orla, a Astoria, no Queens, e para o sul, a Red Hook, que no passado albergou um dos portos mais movimentados do mundo. Já os jovens estão se mudando para Rockaways por causa do surfe, disse Schwartz, o consultor de transporte.
Algumas das rotas não terão sucesso, mas isso não significa que não valha a pena tentar. Além disso, na maior parte do tempo, essa é uma forma muito legal de se locomover afirmou Jeffrey Zupan.
Fonte: O Globo