Não podemos prever o futuro, mas, certamente, podemos planejá-lo. Pesquisadores preocupados em entender o futuro urbano do planeta alertam para as tendências dos próximos 30 anos, quando teremos, mundialmente, cerca de 40 cidades com mais de 10 milhões de habitantes e a possibilidade de aproximadamente dois terços dessa população habitar as “cidades informais” –favelas e modelos semelhantes de moradia.
As cidades, motores de crescimento global, são responsáveis por 80% de toda a produção econômica. Quase 150 das maiores economias metropolitanas do mundo produzem 41% do PIB global, com apenas 14% da população.
Estudos que têm sido realizados em megacidades com o intuito de identificar possíveis modelos de planejamento futuro podem ajudar a entender melhor as alternativas e soluções disponíveis para esse planejamento.
Hong Kong, por exemplo, tem 85% de sua área ladeada por água e, ainda assim, a sua população tende a crescer 50% nas próximas décadas. Com pouca área disponível para o crescimento, e com o que já está urbanizado perto dos limites máximos de adensamento, fica muito mais difícil planejar o desenvolvimento da cidade, que tem como alternativas a utilização dos parques naturais, a extensão do território para dentro do mar ou a criação de ilhas artificiais em seu redor.
A alternativa que parece mais viável é a construção de oito novas ilhas artificiais, cada uma delas dedicada a uma atividade social ou econômica diferente. Assim, afora a criação de novos espaços urbanos para moradia e lazer, geraria novos postos de trabalho.
Obviamente, além das soluções especificas para casos específicos existem macro diretrizes para orientar esse planejamento.
As necessárias transformações passam, sem dúvida, pela mudança na forma usual de tratar e planejar áreas urbanas. Alterar a escala de planejamento, dos limites municipais para uma dimensão regional, onde um melhor aproveitamento das potencialidades locais pode ser desenvolvido, é fundamental.
Dentre as iniciativas importantes está, também, a criação de modelos para coleta e análise de dados que possam auxiliar no desenvolvimento de cenários de urbanização, além de priorizar a formação apropriada dos novos planejadores urbanos.
Um modelo essencial para o aumento da produtividade urbana compreende a mudança obrigatória para um crescimento urbano compacto, com conexão de infraestrutura e governança adequada.
A transformação dos sistemas de transportes com a potencialização da eficiência energética, e a administração dos desperdícios e melhorias nos sistemas de tráfego, entre outras medidas, podem fazer com que as 700 maiores cidades do mundo reduzam as emissões de dióxido de carbono na atmosfera em, aproximadamente, 1,5 bilhão de toneladas por ano.
Análises sugerem, ainda, que esse modelo pode diminuir nas cidades, de forma global, os investimentos em infraestrutura urbana em torno de três trilhões de dólares nos próximos 15 anos.
Muitas cidades já estão trabalhando na direção de um crescimento urbano mais bem estruturado, principalmente no que tange à mobilidade.
Mais de 160 cidades no mundo implantaram sistemas de BRT (Bus Rapid Transit). Na China, a rede urbana sobre trilhos já é hoje de três mil quilômetros. Além disso, cerca de 700 cidades no mundo contam com sistemas alternativos de transporte como “bike share” e “car-share”, entre outros.
Acelerar a transformação das cidades atuais para que se tornem compactas e conectadas requer, também, uma mudança de paradigmas em todos os países, que devem eleger as áreas urbanas como questões centrais nas estratégicas para o desenvolvimento econômico e trabalhar na criação de modelos que garantam uma maior autonomia fiscal para os municípios.
Fonte: Folha de S. Paulo